Ceci Aparecida desenvolve ações de conscientização sobre a importância do combate à violência contra a mulher

O Centro de Convivência Estadual do Idoso (Ceci) – Aparecida, coordenado pela Secretaria de Estado de Assistência Social (Seas), oferece, em parceria com outros órgãos estaduais, dentre eles as secretarias de Cultura (SEC) e de Esporte (Sejel) e o Centro de Educação Tecnológica do Amazonas (Cetam), diversas atividades para os idosos, ajudando a transformar não só a sua rotina, mas, sobretudo, a sua qualidade de vida.
Neste 7 de agosto, a Lei Maria da Penha completa 13 anos e, por essa razão, o Ceci de Aparecida está realizando palestras sobre o tema, que têm o objetivo de sensibilizar os usuários de que a agressão tem que ser denunciada. Uma das palestrantes é a representante da União Brasileira  de Mulheres (UBM) e do Conselho Estadual de Direitos da Mulher (Cedim), Eriana Azevedo, que atua no combate à violência contra a mulher.
Segundo a representante, por meio da Lei, as mulheres ganharam coragem para denunciar, tanto é que entre janeiro e junho deste ano foram denunciados mais de 13 mil casos de agressões em Manaus. “Anualmente, esse número aumenta fruto de um trabalho de encorajamento, uma vez que a mulher leva em torno de 10 anos para romper um ciclo de violência e a lei veio para fortalecer”, disse.

Texto : Margarida Nunes Galvão / Fotos : Jander da Silva Souza

De acordo com Eriana Azevedo, a UBM investe na conscientização, trabalha muito a parceira de homem e mulher, mostrando que a entidade  não combate o homem, mas sim a violência. “Levamos este trabalho para os centros sociais, às comunidades, visando romper essa cultura da violência entre homem e mulher”, informou, ressaltando registros da Delegacia da Mulher, que apontam que a violência física, lesão corporal e ameaças como as mais denunciadas.

 
Mudança de vida – Uma das frequentadoras do Ceci Aparecida é a aposentada Maria José Tavares, de 57 anos, que participa da oficina da memória, ginástica e outras atividades que o local oferece. Ela conta que já frequenta o Centro há dez anos. Maria explicou que, atualmente, se considera uma mulher feliz, mas que nem sempre foi assim. Oriunda de um lar em que o pai se tornava violento quando ingeria bebida alcoólica e agredia a mãe, ela conviveu até os 10 anos com esse quadro de agressões dentro de casa, sendo agredida e vendo o pai fazer o mesmo com a mãe.

“Ele chegou a dar um soco no queixo dela que o sangue escorreu, o que me motivou a mandar prendê-lo”, disse, ressaltando que um tempo depois, após ele muito implorar, a mãe deu uma nova chance, mas ele não havia mudado em nada, e a violência continuou. Com o tempo o casal se separou, e Maria aos 12 anos começou a trabalhar. Anos depois, casou e novamente se viu envolvida no mesmo cenário de agressões, só que dessa vez por parte do marido, que também era alcoólatra.

Ao perceber que sua vida seria uma repetição do que a mãe passou, Maria reuniu forças e decidiu dar um basta e se separou. “Ele me agredia com palavras e empurrões quando chegava bêbado. Só não aconteceu uma tragédia porque eu guardava facas, martelos e outros objetos cortantes”, mencionou a aposentada.

Maria José Tavares considera a lei importante, porque encorajou as mulheres a denunciar seus agressores. No entanto, ela defende que deveria ser melhor aplicada para poder funcionar efetivamente.
A psicóloga do Ceci, Maylla Boreggio, considera a lei em si uma vitória para as mulheres, diante da luta que foi para criá-la, principalmente pelo fato do agressor ter onde recorrer e não ficar com a violência dentro da família. Diariamente, a psicóloga atende várias mulheres que reclamam da aplicabilidade da lei, afirmando que fazem a denúncia mas que nem sempre mandam prender o agressor. Segundo a psicóloga, é grande o número de mulheres na faixa de 70 a 80, cujos relatos são mantidos em sigilo, que veem a viuvez como um livramento do agressor.


“Se torna um alívio o fato do agressor não estar mais vivo, por conta de um casamento sofrido, diante de uma convivência de maus-tratos e agressões”, lamentou a psicóloga, destacando que a violência física é aparente, o que não acontece com a psicológica, que é subjetiva, e a pessoa agredida guarda mágoas por anos.